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Goiânia - Brasil
      

 

 


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Contos

 

DOMJUAM

Dom Juan...

Se chorar resolvesse, confesso, teria chorado. Não sei como consegui colocar no rosto uma máscara de sorriso e continuar como se nada tivesse acontecido. Por dentro estava queimando, chorando... Por fora, era todo sorriso. E as mãos? Onde coloca-las? Lá estavam as duas gesticulando aos céus. Parecia querer, com aqueles gestos mudos, desmentir o que os lábios e os sorrisos diziam. Antes tivessem conseguido.

--- Corra! – gritou-me, de dentro do carro.

Como eu corri! Enfrentei toda aquela chuva e encarei o arrepio das gotas torrenciais que caiam no corpo quente, sem reclamar. Consegui uma carona!

--- Desculpe a molhança! – disse rindo e agradecido, enquanto me acomodava do banco da frente do carro. –-- Tempo doido, não é mesmo?

--- É, parece que abriram todas as torneiras lá de cima! – disse a loura de cabelos longos.

--- Puxa! Estava um céu tão lindo, cheio de estrelas e, de repente...

--- É o tempo de chuvas! Sem elas, nada acontece. Pode usar a toalha que está entre os bancos! Se enxugue, senão vai acabar pegando uma pneumonia! – riu, enquanto sacudia a cabeça e jogava os cabelos para trás. --- Você está todo molhado!

--- Vou acabar ensopando o seu carro! Desculpe!

--- Nem se fala nisso! É numa hora destas que gosto de ajudar aos outros! Já penei assim.

--- Desculpe, nesta correria toda nem perguntei para onde você vai, e não quero atrapalhar! Vai para Taguatinga? – perguntei com medo de que aquele sonho acabasse de repente.

--- Claro, que vou! – respondeu, com uma piscadela. --- Vou lhe confessar uma coisa. Ainda bem que te encontrei! Já estava com medo de dirigir nesta chuva toda! Existem tantas histórias estranhas de batidas, assaltos que nestas horas a cabeça da gente vai a mil! E eu aqui sozinha! Ufa! Tava morrendo de medo e enfrentar São Pedro! – riu, de novo. --- Para falar a verdade, não gosto de dirigir sem companhia, ainda mais, debaixo de um toró deste!

--- Você caiu do céu! – disse ele, olhando para o belo par de pernas sob a saia curta, enquanto se enxugava. Eram pernas de uma deusa. Bem torneadas e queimadas do sol. Na semi-escuridão do carro, iluminadas pelas luzes do painel eletrônico, parecia existir uma espécie de veludo cobrindo-as.

--- Sabe, olhando bem, fui premiada. Além da companhia, você é um gato!- falou me oferecendo um sorriso gostoso.

--- Obrigado! Você tirou as palavras da minha boca! Ia, nesse instante, sem querer me mostrar abusado, falar que você é... puxa! Fenomenal, muito bonita! – disse à queima roupa, afinal, a arte de chegar primeiro, sempre foi dos homens. Mas, neste primeiro round, ela foi mais rápida. A noite prometia...

--- Copiar, não vale! – riu, e deu uma tapinha na minha perna. --- O que você faz?

--- Quem, eu? Desculpe, estava distraído! Não ouvi direito. O que eu faço? Estudo e trabalho. Estou saindo da faculdade.

--- Olha aí, temos um doutor aqui! – falou enquanto pousava a mão, outra vez em minha coxa. Agora ela fez uma leve pressão, firmando a perna entre os dedos da mão. Quase tudo explodiu debaixo do pano da calça. Ela manteve a mão, enquanto fazia um leve carinho ao longo da perna. --- É isso aí! O país precisa de muitos “doutores”- completa com um sorriso.

--- Tá difícil, ser “doutor”, gata! Os preços da faculdade estão pela hora da morte! – responde, querendo se mostrar importante.

Baixei a minha mão e segurei a dela, que estava pousada, atrevidamente, em minha coxa. Estava quente. O olhar que ela me dedicou, não precisava de tradutor. Era a química dos corpos. Ela queria e eu queria, e tudo iria ficar melhor daí para frente.

A minha mão, agora, com toda a liberdade oferecida pela loura, criou asas e voou para aquele belo par de coxas ao meu lado. Inclinei meu corpo mais um pouco e dei um leve beijo em seu pescoço. Ela gemeu bem gostosa. Continuei deslizando a mão por toda a extensão acima dos joelhos da moça, sentindo leves tremores abaixo dela. Mais acima, sob a saia, a grande surpresa! Uma moita de cabelos encrespados recebeu meus dedos com avidez. “Peladinha” por baixo da saia! Que delícia!

O carro, a esta altura, a toda velocidade, passava por fora de Taguatinga e tomava rumo a Brazlândia. Um som suave do toca CD nos envolvia. Ela, vez por outra, com um olho na estrada e outro em mim, desviava a cabeça e me oferecia um beijo rápido. A minha adrenalina subiu a mil. A mão da moça havia criado vida e amassava tudo que encontrava. Espremia, enquanto soltava gemidos provocativos. Eu, perdido de mim, me aconchegava aquele cangote cheiroso, com vontade de virar conde Drácula.

A uns sete quilômetros da cidade, ela encostou o carro e desligou o possante. Mal havia estacionado, voou para cima de mim. Não sei como, num passe de mágica, aquilo tudo estava em meu colo, gemendo e arranhando minha pele. Gemia e arfava o peito. Num raro instante de sanidade, olhei para fora e vi o tempo limpo e seco. A chuva havia desaparecido e nem havíamos percebido.

--- Vamos sair do carro! – falei, entre uma mordiscada e outra.

--- É melhor, quero você inteirinho! Quero o calor do capô do carro sob o meu traseiro! Vou pegar fogo! – disse, arranhando minha orelha com os lábios carnudos.

Ela, que nesta altura dos acontecimentos era um vulcão em erupção em meu colo, saiu do carro e me puxou pelas mãos para fora. Sai do carro e fui imediatamente sufocado por uma boca faminta. Segurei aquele corpo quente entre os meus braços, e num passe de mágica, consegui fechar a porta. Prensei a loura contra a lataria sentindo todo aquele Vesúvio em minhas mãos. Ela, fazendo um tipo de gata manhosa, diz num fio de voz.

--- Calma “tigrão”, deste jeito você me explode! Dá um tempo! – diz, enquanto me afasta levemente, e se vira para dentro do carro.

Olho aquele tremendo traseiro empinado para mim, já que ela havia mergulhado a metade do corpo para dentro do carro e estava abrindo o porta-luva. Juntei as duas mãos naquelas ancas e senti a firmeza dos músculos sob a saia. Fui levantando lentamente aquele fiapo de saia, enquanto ela vai saindo de dentro do carro e se vira para mim com um sorriso. Vi, sob a luz da lua, enlaçado pelos dedos sensíveis da loura e, apontado para mim...um revolver!

--- É um assalto! – disse, com um sorriso todo especial. --- Chegue para trás! – completa, cutucando o cano do revolver em minhas costelas.

--- Como? – perguntei embasbacado.

--- Será que não entendeu, gatinho! – falou com a voz macia. --- Um assalto! É isto que estou fazendo! Estou te assaltando! – riu deliciosamente..

--- Deixa de brinc...

--- “Click” - Ouvi o som do revolver sendo engatilhado.

--- Olha, não me leve a mal, mas,... sabe como é! Preciso sobreviver! – fala, com um sorriso. --- Bem que estou toda molhadinha! Hum... ia ser gostoso, gato!

--- Pára com isto! Não acredito que você...

Bang! Bang! – dois disparos, bem perto do meu ouvido.

--- Não brinco serviço, gatinho! O dinheiro, o relógio e a aliança! – tornou a falar. --- Olha, isto não é brincadeira!

--- Mas...

--- Não tem nem mais nem menos! É sério! Senão o próximo tiro será bem no meio desta cabecinha saliente de baixo... – riu, com crueldade.

Que fazer? Entregar tudo era a melhor solução. Tirei a carteira, o relógio a aliança e coloquei em cima do carro.

--- As roupas!

--- Não! Você não vai...

--- As roupas! – repetiu.

Vai sim – pensei. Tirei as roupas e os sapatos e amontoei tudo aos meus pés.

--- E, esta também? – perguntei apontando para a cueca.

--- Não! Pode ficar com ela. Posso me decepcionar com o que vou ver, e você não gostaria de me ver decepcionada, não é mesmo? – pergunta, com ironia. --- Prefiro acreditar no que imaginei ser, entendeu? Vai! Anda para frente e não olhe para trás!

Com as pernas bambas e tremendo de medo de levar um tiro pelas costas, caminhei rumo à escuridão da estrada.

Ouvi o barulho da porta bater, o carro ser acionado, e senti a luz dos faróis em cima de mim. Os pneus cantarem, enquanto ouvia a última frase da loura safada.

--- Você tem uma bundinha linda, gato!

Ela se foi e eu fiquei perdido na noite, sem saber se ria ou se chorava. Eu, Don Juan de cuecas!


“Nem tudo que reluz é ouro”

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